sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A CAVALARIA MEDIEVAL


A CAVALARIA MEDIEVAL!

Símbolo do imaginário da Idade Média, passou de título de nobreza e figura essencial no campo de batalha a um ideal romantizado, exercitado em torneios e popularizado graças aos contos de cavalaria.

Armaduras.

Para um cavaleiro medieval, perder um cavalo significava desespero. Além do alto custo de adquirir um novo animal de boa linhagem com todos os equipamentos necessários, a cavalaria era, por volta do século 12, intimamente associada à nobreza - ou seja, lutar a pé era uma evidente perda de status. Por isso, compreende-se o apelo angustiado do rei inglês Ricardo III: “Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!”, ele repetia, ao perder sua montaria durante a Batalha de Bosworth, em 1485 - e a fala está na peça Ricardo III do dramaturgo inglês William Shakespeare. Dá uma boa idéia do que representavam o cavaleiro e a montaria na Idade Média. Eram fundamentais nos combates. Alguns viraram lendas pelas atuações nas batalhas e nos torneios de cavaleiros, outros foram idealizados em contos, livros e peças como a de Shakespeare.

O COMEÇO NA CAVALARIA

A conexão do futuro cavaleiro, sempre de linhagem nobre e muitas vezes com sangue real, com a prática começava cedo. Ao 7 anos, o garoto era iniciado em sua formação como pajem. Aos 12, passava a servir seu senhor feudal, quando recebia instrução militar e subia ao posto de escudeiro. Era com esse status que partia com seu suserano para assistir a suas primeiras batalhas reais e aprendia o manejo da lança e da espada. Se sobrevivesse à experiência, provasse seu valor e tivesse dinheiro suficiente para arcar com os custos, entre os 18 e 20 anos ele era armado cavaleiro num ritual que marcava a passagem da adolescência para a idade adulta.
O ritual de sagração de cavaleiro dava a medida da importância do título. Implicava em mostrar sua virilidade em combates simulados durante uma festa – às vezes até em presença do rei –, na observação do jejum e em uma noite de vigília das armas, seguida da comunhão, que incluía a bênção da espada do aspirante. O rapaz fazia então seu juramento, prometendo seguir os códigos de lealdade e honra. De acordo com o professor Wolfgang Henzler, especialista em história e armas medievais da Universidade de Freiburg, na Alemanha, "ele recebia um tapa no rosto ou um golpe no ombro ou na nuca do seu senhor, que finalmente dizia: `Eu te faço cavaleiro em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, de São Miguel e de São Jorge. Sê valente, destemido e leal´. E dali saía montado em seu cavalo".

No campo de batalha, as formações da cavalaria começavam com as lanças. Funcionava assim: cada lança trazia uma fileira com o cavaleiro, seu escudeiro, um pajem e dois arqueiros ou besteiros. Cerca de seis lanças se configuravam como uma bandeira, que por sua vez constituíam uma companhia de homens de armas. "Não é à toa que os cavalos recebiam um tratamento muitas vezes superior ao despendido aos soldados. A perda do cavalo em combate podia custar a vida de seu cavaleiro, já que suas armaduras eram mais leves do que as dos soldados desmontados, resistindo bem menos a flechas e golpes de espada”, diz Henzler.

Em campo as batalhas eram duras e sangrentas.

CONTRA A DECADÊNCIA, FESTIVAIS.

No século XIV, na era das cruzadas, a cavalaria ganhou um aspecto mais
religioso, especialmente com o surgimento das ordens militares – como as de hospitalários e templários. O cavaleiro passou a ser defensor contra hereges e infiéis. “Durante a Guerra dos Cem Anos, ao mesmo tempo em que chegava ao auge no imaginário popular, ele viu sua importância militar perder força. Primeiro por causa da melhoria das armas, como o arco longo, e depois com a chegada das armas de fogo”, conarta Jill Diana Harries, professora de história antiga da Universidade de St. Andrews, na Escócia.


JUSTAS MEDIEVAIS

A partir daí, o cavaleiro andante, com sua armadura brilhante e o ar orgulhoso que se popularizou nos séculos 15 e 16, transformou-se em uma realidade muito mais reservada aos torneios do que às batalhas reais. Esse eventos, como definiu no século 12 o historiador medieval inglês Roger of Hoveden, eram “um exercício militar sem o espírito de hostilidade”. Muito populares na Europa, tinham regras simples: cada cavaleiro levava três armas – uma espada, uma lança e um rondel (um tipo de adaga medindo entre 30 e 50 cm) – e o vencedor era o que conseguisse derrubar o oponente do cavalo com a lança. Se ambos caíssem, dava empate - resolvido em um duelo no solo, até que sobrasse apenas um homem em pé. Se o embate fosse por prazer, para a diversão da platéia, usavam-se armas com pontas rombudas.

Com a ascensão da infantaria nos campos de batalha, o ataque de cavalaria contra as linhas inimigas foi substituído pela artilharia. Em plena decadência, os cavaleiros medievais perderam seu status de guerreiros e ganharam a aura de conquistadores de donzelas, imortalizados pelos populares contos de cavalaria.


Armaduras leves têm a sua principal vantagem nos movimentos rápidos. Elas foram feitos de couro. Também estão incluídos nesta categoria as armaduras japoneses, feita de tiras de couro e bambu.


Armaduras médias eram coletes de malha metálica, por baixo dos coletes de malha se usava uma camisa comum de algum tecido macio como algodão para reduzir a fricção da malha com a pele.


Armaduras pesadas eram armaduras completas feitas de placas de metal. Eram compostas de metais pesados e resistentes e, reduzindo assim a mobilidade de seu usuário, por baixo dela normalmente se usava um corselete de couro para reduzir os impactos de maneira eficiente, eram armaduras extremamente caras.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ARMADURAS DE FERRO E COURO

Cota de Placas

Usando a definição de Bengt Thordeman (Armour from the Battle of Wisby), a cota de placas é a armadura cujo reforço está rebitado principalmente do lado de dentro de uma cobertura de pano ou couro.
Este tipo de armadura surgiu em meados do séc. XIII para dar uma ajuda em proteção aos hauberks de malha, com placas possivelmente de ferro rebitadas sob a sobrecota dos cavaleiros. Embora já usada desde a segunda metade do séc. XII pelos cruzados — para impedir um super-aquecimento da malha sob o sol do oriente e também para evitar sujeira e ferrugem — a sobrecota nesta época era somente uma espécie de poncho largo sem mangas descendo até os joelhos.
Ilustrao: Sergio Roma

Sobrecota Reforçada

Não é senão em 1250 que temos o primeiro exemplo de reforço aplicado à sobrecota, mostrado em grandes rebites formando duas fileiras horizontais na efígie de St. Maurice na Catedral de Magdeburg. Os rebites provavelmente estariam segurando placas verticais a dar a volta por todo o torso do fidalgo. O segundo exemplo mais antigo é a escultura de um cavaleiro dormindo entalhada no altar do Monastério Wienhausen, por volta de 1280. Neste, a sobrecota mostra tanto os rebites quanto é delineada pelas placas afixadas por baixo.
Sr. Thorderman e o sr. Nicolle levam a crer que a idéia das cotas de placas foi roubada dos povos da Ásia Central, que bem pode ter ocorrido no contato dos germânicos com os mongóis quando estes invadiram a Silesia em 1240. Alguns cronistas descrevem como os alemães ficaram aterrados com as armaduras dos tártaros. Seja qual foi a origem, a verdade é que uso de sobrecotas reforçadas se manteve, principalmente entre os países nórdicos, até a metade do séc. XIV quando as sobrecotas — reforçadas ou não — deixaram de existir. Isto não significa que o desenvolvimento e evolução das cotas de placas foi interrompido e já no início do séc. XIV começaram a aparecer os chamados gibões de placas.
Ilustrao: Sergio Roma

Gibão de Placas

O gibão de placas era um colete, geralmente de couro, em cuja parte interna se afixavam as placas. Era vestido por sobre a cota de malha mas ficava oculto sob a sobrecota. Seu uso se espalhou rapidamente pela europa durante a primeira metade do séc XIV.
Seu reforço se dava por placas verticais, horizontais ou por ambas. No geral, as placas no abdome e nas costas eram mais estreitas do que as do peito. Por volta da metade do séc. XIV vamos perceber uma tendência no aumento do peitoral e uma predominância em placas horizontais, são os primeiros sinais das armaduras de placas.
reprodução de um gibão de placas - parte internaPelo fato do gibão estar quase sempre escondido nas ilustrações e esculturas de época, hoje temos muita dificuldade em acompanhar a evolução desta peça de armadura, tendo que recorrer às poucas figuras e efígies nas quais a fenda lateral da sobrecota é mostrada em detalhe. O problema é ligeiramente diminuído durante o segundo quarto do séc. XIV quando a frente das sobrecotas passa a chegar somente até a cintura ou quadris, e é possível ver a parte inferior dos gibões aparecendo. Entretanto, as placas que os protegem ainda se encontram por trás do couro, e um estudo da disposição dos rebites fornece muitas vezes as únicas pistas da quantidade, geometria e posicionamento das mesmas.
reprodução de um gibão de placas - de costasOs achados arqueológicos em Wisby são a maior fonte de informação nos gibões de placas. Foram encontradas 24 cotas distintas, completamente restauradas pelo sr. Thordeman. Sua análise, juntamente com a extraída das figuras, revela duas vertentes de evolução. A primeira, já citada, leva para um aumento do peitoral e placas horizontais protegendo o abdome e quadril. A segunda leva para uma diminuição sistemática das placas até formar um colete inteiro forrado de lamelas afixadas com pequenos rebites, as chamadas brigandinas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

armadura de malhas

Malhas

As armaduras de malha foram possivelmente as mais usadas em toda a história. Seus primeiros achados datam do séc. IV a.C. e estão associados ao povo celta. Os romanos, na seqüência, fizeram largo uso das malhas enquanto durou seu império, deixando-as de herança para os povos medievais que aperfeiçoaram este tipo de armadura ao seu maior grau.
Por toda a Idade Média as armaduras de malha foram usadas, atingindo seu auge no séc. XIII quando o cavaleiro se envolvia literalmente dos pés a cabeça em anéis de ferro interligados.
Historicamente, a existência de malhas com anéis cujas extremidades estão apenas juntadas (sem nenhuma solda ou rebite) é duvidosa. Existem poucos exemplos que sobreviveram, sendo peças das mais antigas ou referentes a reparos em campos de batalha. Todas as outras peças de autenticidade comprovada contém anéis rebitados ou sólidos (soldados ou extraídos por completo de uma chapa). De fato, somente esses anéis conferem às malhas seu poder de proteção num combate real. A Guilda começou a fazer seus projetos em anéis rebitados, embora ainda ofereça peças nos não autênticos anéis juntados.
Existe muita confusão associada à nomenclatura desta armadura. O termo popular em inglês chainmail é um pleonasmo, uma vez que mail — do francês maille, do latim macula que significa malha — dava nome à armadura em sua época. No séc. XVIII, o termo mail acabou se desvirtuando e passou a denotar qualquer tipo de armadura, fazendo surgir nomes medonhos como chainmail, scalemail e platemail, totalmente equivocados.
No português o problema continua. O conhecido cota de malha vem também do francês cotte de maille que significa vestido/veste de malha. Sendo assim, pode-se usar o termo para dizer das peças no formato de túnica ou camisa (hauberk e haubergeon), mas não para dizer da trama ou do tipo de armadura. Falar algo como “este cavaleiro trajando uma túnica de cota de malha” é um equívoco. Ou use “uma túnica de malha” ou apenas “uma cota de malha”.

Tramas

Existem diversas técnicas para se unir os anéis de ferro, são o que damos o nome de trama da malha. É a trama, juntamente com o tamanho e espessura dos anéis, que dará as características de peso, resistência, expansibilidade e flexibilidade da peça. Os armoreiros medievais sabiam disso quando escolheram a trama 4 por 1 como sendo a padrão para suas armaduras.
Trama 4 por 14 por 1 significa cada argola passa por outras 4. É a trama européia mais simples e também a mais eficiente. Apresenta ótima expansibilidade e pouco peso, que não restringem os movimentos do guerreiro. Outras malhas possíveis são as 6 por 1, 8 por 1 etc. Embora mais densas e teoricamente mais resistentes, pecam pela falta de mobilidade e peso excessivo. Na prática, sempre podemos diminuir o tamanho das argolas de uma trama 4 por 1, melhorando sua resistência, no lugar de optar por uma 6 por 1 com o mesmo tamanho.
Trama 6 por 1Historicamente essas assertivas se verificam. Quase todas as malhas autênticas são 4 por 1, com pouquíssimos exemplos 6 por 1 não totalmente verificados. Deve-se ter em mente que estamos falando de anéis sólidos/rebitados que são dezenas de vezes mais resistentes do que os juntados. Não fosse o caso, diminuir o tamanho das argolas nem sempre seria a melhor opção.
Vale mencionar que armaduras de malha também existiram no Japão feudal, com tramas com simetria triangular bem diferentes das européias, como a 3 por 1 e a 6 por 1 oriental.
Ilustração: Sergio Roma

Hauberk/Haubergeon

Até o séc. XIII a principal armadura do cavaleiro era a túnica de malha. Descia até a altura dos joelhos, com mangas compridas terminadas em mitenes (luvas), trazendo às vezes uma coifa (capuz) de malha incorporada. A estas túnicas damos o nome de hauberk.
Com o desenvolvimento das armaduras de placas nos séculos seguintes, o hauberk foi reduzindo de tamanho e se tornou o haubergeon, uma camisa descendo até abaixo do quadril com mangas ¾ do comprimento. Estas são as cotas (vestes) de malha.
hauberk com coifa embutidaNa Roma antiga, malha era a armadura padrão dos soldados antes do aparecimento da lorica segmentata. Se parecia com um haubergeon mas sem mangas e trazia uma camada dupla na região dos ombros. Seu nome era lorica hamata.
Seguindo a linha histórica, no início da Idade Média — séc. VI–X — a lorica hamata sobe até a altura dos quadris, ganha mangas de cerca da metade do comprimento e perde a dupla camada nos ombros. Esta cota de malha é comumente associada ao povo escandinavo e recebe o nome de birnie. Pode-se reparar que esta camisa se enquadra muito bem em um haubergeon, mas historicamente colocamos este depois do hauberk enquanto que o birnie antes.
Ilustração: Sergio Roma

Coifa

A coifa é o capuz feito de malha com o intuito de proteger a cabeça e o pescoço. Durante os séc. XI–XIII costumava ser integrada ao hauberk, depois disso começou a ser vista separadamente, com um manto que descia até os ombros.
Coifa com venteira; Ilustração: Sergio RomaPor volta do séc. XII as coifas receberam uma melhoria: a venteira. Tratava-se de uma tira de malha anexada à lateral da abertura da face que, quando presa à outra extremidade, cobria o queixo (por vezes a boca também) deixando somente a parte superior do rosto exposta.
A venteira possivelmente continha um forro que ajudava a malha a ficar moldada corretamente enquanto servia de acolchoamento para diminuir o impacto no maxilar.
Ilustração: Sergio Roma

Calças

As calças são as proteções de malha para as pernas, podendo ser na forma de meiões compridos, subindo até a coxa, ou uma faixa de malha que dá a volta pela perna, presa atrás por amarras de couro. Por volta do séc. XIII, as calças começaram a aparecer incorporadas com um sapato também de malha.
Ilustração: Sergio Roma

Manto

O manto era uma peça feita para proteger o pescoço, os ombros e eventualmente a parte superior do peito e das costas. Achados históricos datam do séc. XV e XVI, principalmente de origem germânica. Como mostrado na ilustração, a trama não é radial, mas apresenta emendas de 45°, além de uma fenda nas costas (fechada por cordões de couro) para deixar passar a cabeça.
Ilustração: Sergio Roma

Camal

O camal tem a mesma finalidade do manto — a proteção da parte superior do corpo — com a diferença de que é afixado ao elmo (muito comum aos bacinetes). O método tradicional de afixação se dá por meio de anilhas, conforme mostrado na imagem.

armaduras e armas

domingo, 20 de janeiro de 2013

ARTES MARCIAIS NINJAS E ARMAS

Bukijutsu
Armas de Formação da Bujinkan



Durante o treino, exploramos muitos aspectos do treinamento de armas, juntamente com as técnicas tradicionais associados com cada arma. O princípio fundamental deste treinamento para Kyu (os escalões mais baixos) é utilizar armas de treinamento para melhorar o estudo de Taijutsu (combate desarmado). Como um progride através fileiras médio e superior, o foco de mudanças de armas de treinamento e torna-se mais aprofundado e especializado. Treinamento com armas podem ser agrupados em cinco categorias principais de estudo:

   

Rokushaku Bojutsu (luta com bastão)
1. Stick (Staff) Armas
Vários comprimentos e construções de armas vara são estudados. Esta área é muito importante entender bem antes que se possa lidar corretamente outros tipos de armas pólo. Alguns exemplos são os seguintes:

Yubibo - Stick Dedo

Tanbo - Clubes, Cassetetes

Sanshaku Bo (Hanbo) - Três Vara Pé

Yonshaku Bo (Jo) - Quatro funcionários Pé

Rokushaku Bo - Seis equipe Pé

Nyoi Bo - Very Large equipe Pesado

   

Kenjutsu (luta com espada)
2. Armas brancas
Esta área de treinamento inclui diversos tipos de facas, espadas e armas pólo que incluem lâminas anexadas. Alguns exemplos de armas desta categoria de formação são:

Tanto - Facas

Shoto (Kodachi, Wakizashi) - espadas curtas

Katana (Tachi, Daito) - espadas longas

Yari - Spears

Naginata, Nagamaki, Bisento - Armas Halberd

   

Kusari Gama (Chain & Sickle)
3. Armas flexíveis
Esta categoria de armamento inclui vários comprimentos de corda e correntes com e sem armas anexadas. Alguns exemplos de armas flexíveis são:

Hojo (Torinawa) - Corda Prender

Kagi Nawa - Hook & Corda

Kusari Fundo - Chain & Pesos

Kusari Gama - Chain & Sickle

Chigiriki - Staff & Chain ponderada

   

Metsubushi (removendo o Vista)
4. Armas de projéteis
Qualquer arma pode ser utilizada como uma arma projéctil uma vez lançada. Vários tipos de lâminas, facas, assim como armas de fogo de arco e flecha e moderno são estudados. Exemplos de armas de projétil são:

Shuriken - Lâminas de Arremesso e Spikes

Metsubushi - Substâncias Avistar Remoção

Kyu - Tiro com Arco

Teppo - Armas de fogo

   

                                                               SHUKO ARMAS
 
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Esses dois exemplos são de facas de arremesso. Ao contrário das kunais, facas de arremesso são usadas somente para ataque, e geralmente à longa distância. Isso porque são leves, fáceis de manusear, descartáveis, etc. Elas podem ser usadas, ainda, para uma defesa corpo a corpo. Se o oponente te prender, você pode usar aquela faca de arremesso escondida.
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Essa arma acima é outro modelo de agulha usada por Haku. Ela tem um corte mais afiado na ponta, aumentando a capacidade de penetração em certos tecidos do corpo. Além disso, essa parte ondulada no centro serve para dificultar a retirada da agulha, aumentando a dor e o tamanho do ferimento.
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Essa é uma das Kanatanas mais comuns entre os shinobis. Ao contrário da Katana de Samurai, essa praticamente não possui a curvatura ao longo da lâmina, é muito mais leve, e a bainha é, geralmente, adaptada para ser acoplada nas costas, pela altura do peito ou na altura da cintura. Geralmente o shinobi não usa a espada na lateral do corpo, na cintura, pois isso atrapalharia sua movimentação rápida e furtiva.
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Aqui um conjunto básico para shinobis em missão, possuindo facas de arremesso, agulhas, shurikens e uma katana simples, não curvada, como a anterior.
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Bastões também eram usados por shinobis. Eles garantiam uma defesa, muitas vezes, maior e mais rápida que as espadas, e podiam ferir um oponente sem matá-lo. Ideal para capturar prisioneiros vivos, e para lutar em silêncio.
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Aqui, outra Katana simples da marca e modelo Musashi. Essa possui um pouco mais de curvatura, e é um pouco maior. Usada por shinobis dispostos a enfrentar guerreiros poderosos, sem fugir deles.
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Aqui, um kit bastante completo dessas armas ninjas. Dois modelos diferentes de espada, uma longa e uma média, ambas sem curvatura. Mas ambas são direcionadas ao shinobi que quer entrar em batalha, e não ao shinobi furtivo. À esquerda da espada temos os “pregos”, chamados assim porque são usados para atrasar o oponente. São aqueles objetos que o shinobi joga no chão para furar os pés dos inimigos desavisados. Não sei exatamente o nome desses componentes todos, portanto, se alguém puder me corrigir, ficarei grato. Acima desses pregos temos as já faladas e conhecidas agulhas, muito úteis para atacar de longe, uma shuriken e um aparato que auxilia escalada. Esse aparato é um anél para a palma da mão, e na parte de baixo existem algumas garras. Com essas garras é possível rescalar até castelos japoneses, constituidos, principalmente, de madeira.

Shuko (Garras Mão)
5. Armas especializados
Esta categoria de armamento inclui uma ampla gama de ferramentas a partir de pequenas armas ocultáveis, para maiores armas especializadas que são exclusivas de uma escola específica. Isto inclui armas e ferramentas que são puramente Ninjutsu (não convencional).

Jutte, Tessen, Kunai - Cassetete, Ventilador de Ferro, ferramenta de escavação

Toami - Rede de Pesca

Makibishi, Tetsubishi - Spikes Pavimento

Kyoketsu Shoge - Sickle Pequenas e Corda

Shuko, Ashiko - Garras Hand & Foot

Shikomizue, Mezashi - Staffs Loaded e bastões

Ogama, Ono, monpas - Sickle Tamanho Battlefield, Machado & Hammer

Kakushi Buki - Armas escondidas

Ningu - Ninjutsu Tools & Gear

armadura shamurai e armadura

A arte da espada de Choisai Sensei

Em 1447, Henrique VI ocupava o trono da Inglaterra. O exército inglês havia sido expulso da França pela segunda e última vez e a Guerra das Duas Rosas estava prestes a começar.
Caligrafia de Otake Sensei "Alma de espada"
Em 1447, o Japão não era uma nação unificada. A população se dividia em grupos rivais comandados pelos senhores feudais locais, ou daimios. Numa época de guerra contínua, os jovens aprendiam o bujutsu, as virtudes marciais, e sua educação incluía as artes de luta do kyu-jutsu, ou arte do arco; do ken-jutsu, ou arte da espada; do naguinata-jutsu, ou arte da alabarda; do so-jutsu, ou arte da lança; e a arte do uso de um sem-número de outras armas.
A diferença essencial entre as duas culturas resume-se no fato de que, no Japão, essas mesmas artes ainda são ensinadas. A mais antiga das escolas de combate do Japão que sobrevivem até hoje foi fundada em 1447. Os ensinamentos estabelecidos pelo fundador continuam sendo transmitidos sem alteração alguma.

Tenshin Shoden Katori Ryu

A mais importante de todas as academias de artes marciais do Japão fica a alguns quilômetros de Narita, o novo aeroporto internacional de Tóquio, numa região que já foi uma área rural pacífica. É como se no condado semi-rural de Sussex, perto da pista principal do Aeroporto de Gatwick, em Londres, houvesse uma escola que ensinasse desde a Idade Média as artes da justa e do torneio.
Na Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu, o praticante pode aprender a usar uma espada de samurai para lutar contra um homem trajado de armadura medieval e armado de bastão, alabarda, lança ou espada longa ou curta. O fato de os ensinamentos da escola não terem sido alterados em função das mudanças de vida ocorridas no século XX revela uma coerência e uma firmeza raras até mesmo no Japão.
Katana a alma do samurai.
Os alunos da Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu estudam uma arte marcial pura. O objetivo da escola é o de aperfeiçoá-la, de desenvolver as técnicas por cujo aperfeiçoamento muitos homens morreram no passado. As lições aprendidas em combate constituem uma parte importante dos ensinamentos. É por isso que os alunos mais avançados têm uma firmeza tão grande. Essa firmeza não poderia ser atribuída a outros motivos, uma vez que não há vantagem alguma, do ponto de vista prático, em estudar lá em vez de estudar numa escola que ensine uma arte de autodefesa, como o aikidô ou o karatê. Lá, os discípulos aprendem o sistema clássico de combate com armas, no qual cada movimento foi concebido para matar ou ferir de morte o adversário.

Os objetivos da escola permanecem os mesmos desde a sua fundação, há quase 550 anos: formar espadachins versados em todos os aspectos da arte da guerra, desde o uso das armas até os conhecimentos táticos, logísticos e até médicos.
Os alunos da escola sabem que estão partilhando de um conhecimento histórico raríssimo, até mesmo único, que deve ser conservado e transmitido às gerações futuras. Em reconhecimento desse fato, o governo do Japão deu à escola um título de honra sob a forma de um nome: “Um Valor Cultural Inestimável” .

As Origens Feudais

O fundador da Katori Shinto Ryu, lizasa Choisai lenao Sensei ou Choisai Sensei (a expressão Sensei significa “mestre”), nasceu no ano de 1387 na localidade que hoje se chama Takomachi, na prefeitura de Chiba (a cerca de 64 quilômetros de Tóquio).
Samurais
Aparentemente, ele participou de algumas batalhas campais e essa experiência levou-o a perceber que o tipo de guerra que estava ocorrendo não poderia conduzir senão à destruição das famílias e das linhagens.
A Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu foi fundada em 1447 por lizasa Choisai lenao Sensei. O atual chefe da Ryu, Mestre Otake, sempre se lembra da expressão calma e pacífica da face do Fundador nessa imagem, comparando-a com a atitude feroz em que são representados a maioria dos mestres espadachins.
Por isso, quando a família Chiba caiu em desgraça e foi por fim derrotada, Choisai Sensei separou-se de sua própria família e foi viver no recinto mais interno do Santuário Katori. Tinha 60 anos quando se retirou para viver como recluso no Santuário.
No Japão, há dois santuários especialmente famosos dedicados às artes marciais. O Santuário Katori encontra-se numa colina baixa cujo topo é recoberto de árvores grandes e antiqüíssimas. As mais antigas são amarradas com cordas, à maneira da religião xintoísta. Os templos e outros edifícios do santuário foram construídos em meio às árvores. O Santuário Kashima fica lá perto; ambos ainda são focos de peregrinação importantes e populares.
Naquela época, aconteceu que um dos discípulos do Fundador foi lavar um cavalo numa nascente chamada Fonte Divina ou Fonte do Deus, perto do Santuário Katori. Pouco tempo depois, o cavalo começou a sofrer de dores e morreu.

Para Choisai, esse acontecimento foi uma revelação do poder divino da divindade xintoísta adorada no Santuário Katori, divindade essa que se chama Futsunushi-no-Kami. A morte do cavalo deu-lhe uma espécie de intuição espiritual do poder da divindade. Por isso, ele decidiu passar mil dias em adoração no Santuário Katori. Nesse período, dedicou-se a austeras práticas de purificação e estabeleceu para si um cronograma rigoroso de treinamento marcial.
Ao final desse período de penitência e treinamento, ele estabeleceu os ensinamentos que constituem a Katori Shinto Ryu.
A guarda da Katana “Tsuba”.
Choisai Sensei acreditava que havia descoberto os ensinamentos diretos e verdadeiros do deus Futsunushi-no-Kami, adorado no Santuário Katori, e por isso antepôs ao nome Katori Shinto Ryu a expressão tenshín shoden, que significa “tradição celeste”. Isso nos dá o nome completo da tradição, ‘Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu’, que significa ‘a tradição marcial que é o caminho dos deuses’. Como a palavra ‘Shinto’, que significa ‘o caminho dos deuses’, significa o caminho verdadeiro e correto que os homens devem seguir, à semelhança de todas as tradições xintoístas que nos foram transmitidas desde os tempos antigos, está implícita nela a idéia de um caminho que as pessoas devem trilhar com um coração sincero. Ao que parece, foi assim que Choisai Sensei entendeu esse conceito e usou-o em sua tradição marcial.”
A linha de sucessão da escola jamais foi rompida. O atual Mestre da Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu é o vigésimo da sucessão, embora não seja um mestre praticante. Por isso, é Otake Sensei, o Mestre de Treinamento, que transmite a tradição para os discípulos. Ele não ensina somente as técnicas de luta, mas também os conhecimentos eruditos de uma escola do Budismo esotérico.

Entre e leia toda a história sobre a Tenshin Shoden Katori Ryu:


A Filosofia do Fundador

O fundador, Choisai Sensei, viveu até os 102 anos de idade e deixou uma grande quantidade de ensinamentos, tanto filosóficos quanto práticos. São esses os ensinamentos transmitidos por Mestre Otake.
No centro de todos esses ensinamentos há um trocadilho. O trocadilho se expressa na língua japonesa, mas depende, para ser compreendido, dos caracteres chineses que exprimem as mesmas palavras. Em japonês, a palavra heího significa todo o currículo marcial de uma escola tradicional de uso de armas, mas as suas origens lingüísticas são muito mais complexas:
Dos ensinamentos de Choisai Sensei, aprendemos que a palavra heího, escrita com os caracteres japoneses, significa ‘o método do soldado’. Escrita com caracteres chineses, entretanto, heího adquire o sentido de ‘pacífico’ ou ‘calmo’.
Portanto, o método marcial é uma verdadeira via de combate; mas quem é capaz de assimilar o currículo inteiro (da Katori Shinto Ryu) descobre que ele se torna uma via de paz.
Chegamos a descobrir que a vitória pela morte do adversário não é uma vantagem verdadeira. É esse o sentido da paz.
Assim, no bujutsu, ou seja, nas artes marciais, nós praticamos técnicas que foram criadas para matar outro ser humano. No treinamento, praticamos artes em que, quando um parceiro se move, o outro é morto. Não obstante, os ensinamentos de Choisai Sensei deixam claro que, muito embora o treinamento seja feito desse modo, não é correto matar as pessoas com a espada. Fazem-nos ver que ser homem não é só ser forte e poderoso. O simples fato de termos a força necessária para destruir não nos levará em nenhuma direção produtiva.
Se assim fosse, os animais que dependem unicamente do seu poder e da sua força para sobreviver, como o leão e o tigre, simplesmente continuariam a crescer e multiplicar-se até dominar completamente a Terra. A verdade é que isso não acontece. Valer-se unicamente da força bruta é o caminho dos animais.
Na qualidade de seres humanos, temos de seguir um caminho diferente, um caminho em que não é correto manifestar abertamente a própria força. No bujutsu, nas artes marciais, é essencial que sejamos muito fortes. Não obstante, é igualmente necessário que não revelemos a nossa força. Precisamos compreender uma forma mais elevada de sabedoria humana e manter oculta a nossa força bruta. É por isso que Choisai Sensei falava de heiho, o método da paz.

O Desenvolvimento da Katori Shinto Ryu

Os guerreiros e estrategistas de todo o Japão costumavam ir aos Santuários Katori e Kashima para prestar homenagem às duas divindades marciais. Era bastante natural, por isso, que, como já haviam viajado tanto para chegar ao santuário, fizessem uma parada no local onde Choisai Sensei ensinava para ver se conseguiam aprender alguma coisa.
Naquela época, sempre que alguém lançava um desafio ao chefe de um dojô ou sala de treinamento, ocorria um shiai, ou seja, um duelo ou uma luta, geralmente com a espada de madeira (boken). Essa luta era coisa muito séria. Um golpe da espada de madeira pode causar ferimentos graves e, se pega na cabeça, pode até matar.
O santuário Katori, um dos mais importantes santuearios xintoístas do Japão. Ele é dedicado a Futsunushi-no-kami, a divindade da espada.
Depois de estabelecer o seu local de treinamento no Santuário Katori, Choisai Sensei tornou-se tão conhecido que, se permitisse os torneios de shiai, haveria uma pessoa morta quase todos os dias. Por isso, ele proibiu de modo expresso e rigoroso todos os combates.
Até hoje em dia, a Katori Shinto Ryu proíbe que qualquer um dos seus praticantes se envolva em combate com outra pessoa antes de ter chegado ao grau de menkyo ou Mestre Licenciado. É certo que um dos dois duelistas seria gravemente ferido ou mesmo morto. É por isso que se diz que shiai, o torneio, é sinônimo de shiniai, que significa ‘encontrar-se para buscar a morte’. É outra maneira de dizer que qualquer espécie de combate é uma coisa muito séria, uma questão de vida ou morte.
Em decorrência disso, desde aquela época, as competições de luta são proibidas na Katori Shinto Ryu. Choisai Sensei ensinava que a forma ideal de vitória era aquela que podia ser obtida sem o combate nem o uso de armas.
Mestre Otake
“Abaixo do nível de vitória obtido numa competição amistosa está a vitória obtida quando se fere o oponente. A terceira forma de vitória, e a mais baixa de todas, é a que se obtém matando-se o oponente. Choisai Sensei ensinava que a forma ideal de vitória era a que podia ser obtida sem luta e sem violência.”

A História do bambu anão.

Entre os ensinamentos há um que se chama kumazasa no oshie, ou seja, “os ensinamentos do bambu-anão”. É esse o nome que a Katori Shinto Ryu deu a uma série de histórias que relatam o modo pelo qual Choisai Sensei era desafiado pelos guerreiros que visitavam o seu dojô.
Segundo esses ensinamentos e as histórias que sempre o acompanham, quando um desafiante chegava ao dojô e dizia a Choisai Sensei: ‘Por favor, deixe-me tentar derrotá-lo’, Choisai Sensei respondia: ‘Ótimo, mas primeiro vamos nos sentar juntos.’
Então, ele pedia a algum membro do dojô que estendesse uma esteira de palha sobre um canteiro de bambus-anôes, de modo que a esteira se apoiasse sobre os frágeis bambus cerca de trinta centímetros acima do chão.
Então, Choisai Sensei subia nessa esteira e sentava-se sobre ela. Nem a esteira caía nem os bambus vergavam-se sob o seu peso. Ele convidava então o desafiante a subir e sentar-se ao lado dele.
Segundo se conta, quando os desafiantes viam isso, percebiam que estavam na presença de uma pessoa extraordinária e admitiam imediatamente a própria derrota. Sabiam que lhes seria impossível fazer a mesma coisa. Embora tivessem vindo para lutar, Choisai Sensei era capaz de convencê-los de que não era essa a maneira correta de se proceder. Ele descia então de sua esteira e oferecia-lhes a hospitalidade do seu dojô.
O sentido de kumazasa no oshie, ou ‘os ensinamentos do bambu-anão’, é que, em vez de ensinar somente métodos de matar, Choisai Sensei conseguia ensinar aos seus desafiantes a maneira correta segundo a qual os seres humanos devem se comportar. Diz-se que todos os guerreiros que vieram ao Katori Shinto Ryu voltaram a seu local de origem num estado mais maduro ou tranqüilo.

Mestre Otake


O jovem Otake nasceu numa fazenda perto do local de nascimento do Fundador. Cresceu em meio à atmosfera militarista que tomou conta do Japão antes da Segunda Guerra Mundial.
Otake vivia profundamente preocupado com a propaganda que exortava os jovens a estar preparados a dar a vida pelo imperador. Tinha medo de não conseguir. Para aprender a morrer, foi estudar ‘lia Katori Shinto Ryu. Depois de um serviço militar breve e monótono, voltou ao fim da guerra para aprofundar seus estudos na Ryu.
Naquela época, o Mestre dava aulas em sua fazenda. A Katori Shinto Ryu tornara-se uma tradição rural exteriormente insignificante, que poderia chegar a desaparecer. O Mestre ficou doente e o jovem Otake, já designado como seu sucessor, assumiu parte dos seus deveres.

Um desses deveres era a cura de doentes pelos métodos budistas. Certa vez, Mestre Otake teve de exorcizar um jovem possuído pelo espírito de uma raposa. Sustentou duas noites de intenso combate e finalmente conseguiu expulsá-lo do jovem, fazendo um movimento intimidador com sua espada. Em toda a sua vida, só fez um exorcismo; não quis ter de novo a mesma experiência.
Até há bem pouco tempo, Mestre Otake era fazendeiro e criador de cavalos de corrida, mas aposentou-se para ter mais tempo para dedicar-se à Katori Shinto Ryu, que havia sobrevivido em sua forma pura: uma tradição de luta praticada principalmente pelos samurais fazendeiros ou funcionários militares dos daimios. Porém, nos últimos cinqüenta anos, a zona rural japonesa, como a da Europa, sofreu muitas mudanças. Otake Sensei chegou à conclusão de que os efeitos dessas mudanças sobre a sua escola exigiriam que ele dedicasse a ela toda a sua atenção. Por exemplo, com a criação de um serviço de trens rápidos e de uma rede de rodovias que ligam a capital à zona rural, a maioria de seus alunos passou a vir de Tóquio, e não mais da pequena comunidade de senhores de terras.
Yari e Naginata, armas samurais.
Entretanto, mesmo hoje em dia, há somente uns cinqüenta e poucos membros que praticam regularmente. A Katori Shinto Ryu nunca atraiu um grande número de alunos; não foi feita para o treinamento de grandes massas.

As Técnicas e o Treinamento

A Katori Shinto Ryu sempre aceitou alunos de todas as classes sociais. A única qualificação exigida é a disposição de continuar treinando e estudando. É preciso ter muita coragem para executar os elaborados movimentos de prática em velocidade rápida. As espadas de madeira (bokken) e as outras armas de treino passam céleres e a uma distância perigosamente pequena do rosto e do corpo dos praticantes. A mais pequena falha de concentração que prejudique a precisão e o ritmo dos movimentos pode ter por conseqüência, no mínimo, uma pancada dolorida.
A espada do mestre está com a lâmina virada para cima. Ao mesmo tempo que a ponta da espada perfura o crânio do adversário, o fio corta a vulnerável parte de baixo do seu pulso.
O conhecimento da arte tem três estágios. A passagem dos membros de um estágio para outro é marcada pela entrega de um diploma copiado à mão pelo Mestre da Ryu a partir dos escritos originais do falecido Fundador. O aluno diligente recebe o seu primeiro diploma ao cabo de cerca de cinco anos de treino. Depois disso, ele pode freqüentar as aulas avançadas e estudar o uso das armas mais complexas; pode também começar a estudar a primeira fase do conhecimento esotérico de estratégia, religião e medicina transmitido pelo Fundador.
O segundo diploma é concedido depois de mais ou menos dez anos, e o terceiro, entregue somente aos instrutores sêniores, geralmente não é concedido a quem passou menos de quinze anos na Ryu. O conhecido estudioso norte-americano Donn Draeger, autor de diversos livros que dão a palavra final sobre as artes e caminhos marciais japoneses, é o único estrangeiro a ter alcançado esse grau na Ryu.
Ataques simultâneos.
Otake Sensei dá aulas três vezes por semana, mas, como muitos alunos têm de transpor os 64 quilômetros que separam o santuário da cidade de Tóquio, poucos deles treinam mais de duas vezes por semana. A aptidão marcial de todos eles, porém, deixa claro que quase todos praticam em casa. Nas outras artes de luta, o normal é que pouquíssimos alunos cheguem ao fim do treinamento. No karatê, por exemplo, diz-se que, de mil praticantes que começam a treinar, só um se torna bom o suficiente para ser instrutor. Não é isso, porém, o que acontece na Katori Shinto Ryu. Isso talvez se deva, entre outras coisas, ao fato de que, na Ryu, os discípulos são obrigados a fazer um pacto de sangue antes de poder dedicar-se ao estudo de maneira séria e regular. A verdade é que todos os membros da Ryu levam seu treinamento muito a sério.
Otake sensei demonstra sua zanshin ou concentraçnao total no momento de impacto enquanto pratica com seu filho mais novo, que maneja uma naguinata ou alabarda.
A Ryu não é grande, e o dojô de Otake Sensei (a sala de treinamento, literalmente “o lugar do Caminho”) só permite que dois pares de alunos pratiquem ao mesmo tempo. Até quatro podem praticar simultaneamente as formas-solo da arte de desembainhar a espada (chamada iai-jutsu), usando espadas de verdade, afiadas para o combate.
Todo o treinamento regular é feito com armas; só se praticam formas, chamadas Katá em japonês. Ao contrário do que acontece em quase todas as outras artes e caminhos marciais, não há exercícios formais de aquecimento e alongamento nem a prática de técnicas simples. Só se vêem as seqüências longas e contínuas de cortes, talhos, estocadas, golpes de ponta e bloqueios combinados em padrões de movimentos minuciosamente predeterminados para cada katá.
Golpe cortando para baixo em alta velocidade.
Os katás também se ordenam numa seqüência rígida que começa com o movimento relativamente simples de desembainhar a espada. A este seguem-se os omote-ken-jutsu, os katás da arte da espada para os principiantes, os quais, como todos os que se seguem, são feitos a dois. Todos os espadachins têm de aprender os dois papéis dos katás de combate. As aulas de Otake Sensei partem do primeiro katá para os posteriores, mais diversificados e complicados.
A reverência antes de empunhar a katana.
Aos katás da arte da espada para os principiantes seguem-se as formas de bo, ou bastão, contra a espada. Vêm por fim as naguinata, ou alabardas, que podem ter até dois metros e meio na Katori Shinto Ryu e são as armas mais difíceis de ser dominadas pelos principiantes. Relampejam pelo ar em grandes arcos; às vezes, o alabardeiro tem de dar um salto para o alto a fim de ter espaço suficiente para aplicar um corte de baixo para cima. O espadachim que se lhe opõe permanece a distância e procura aproximar-se do adversário de repente, aproveitando os momentos em que ele gira a alabarda. Todos os movimentos são coreografados.
Os katás intermediários da arte da espada são muito complexos, rápidos e curtos. Os movimentos são tão precisos que às vezes a palma da mão esquerda é utilizada para apoiar e direcionar a lãmina da espada. Contragolpes sucedem-se rapidamente a partir de todos os ãngulos possíveis e imagináveis.
Várias formas de shuriken. As estrelas da morte usadas pelos ninjas.
Entre os ensinamentos da Katori Shinto Ryu há o nin-jutsu, as artes dos ninjas (espiões e assassinos do Japão feudal) ou artes da espionagem. Nestas fotografias, um dos membros mais antigos da Ryu demonstra o lançamento dos shuriken, ou dardos de ferro. Esta parte dos ensinamentos da escola é secreta.
O shuriken é feito para causar a morte silenciosamente, e o nin-jutsu é a arte do assassinato silencioso. O homem que aparece nestas fotografias autênticas – as primeiras jamais publicadas – pratica de quatrocentos a quinhentos lançamentos por dia e é capaz de cravar seis dardos num círculo de menos de cinco centímetros de diãmetro a cinco metros de distãncia.

Quando se prepara para lançar, acima, apóia o peso sobre a perna de trás e usa o braço e a mão que estão à frente para mirar. No ato do lançamento, abaixo, o peso é transferido para a perna da frente, de modo que o movimento do braço que lança possa seguir até o fim com suavidade.
Foto de um antigo samurai.
Uma das grandes diferenças entre a arte essencialmente marcial da escola de Otake Sensei e todas as outras artes e caminhos marciais é que, para um espadachim-guerreiro, qualquer golpe aplicado corretamente acarreta a morte do adversário, e o menor erro de discernimento implica a morte, geralmente instantânea, do próprio espadachim. Um corte na virilha causa a morte em vinte segundos; um corte nas axilas mata mais rápido ainda, e um corte no lado do pescoço rompe a veia jugular e mata em três ou quatro segundos. A katana, a espada japonesa tradicional de combate, é afiada como uma navalha. Por isso, não há nenhum outro sistema de combate em que cada movimento seja tão vital- ou tão mortífero – quanto no ken-jutsu, a arte do espadachim.
Armadura samurai "Yoroi"
Para lutar-se corretamente segundo o estilo dessa tradição, a espada é usada de muitas maneiras diferentes contra um número limitado de alvos. Esses alvos são determinados pelos pontos vulneráveis da armadura japonesa. Infligemse cortes no rosto, na parte de baixo dos pulsos, na parte de dentro dos braços (do bíceps), nos lados do pescoço, nos lados e na frente do abdômen na altura da cintura e na parte de dentro das pernas. A alabarda pode atingir também as panturrilhas, que são para a espada um alvo muito baixo. Em todos esses lugares há espaços entre as partes da armadura; além disso, em todos eles passam as principais artérias e veias do sistema circulatório do corpo.

É interessante notar que esses alvos lógicos para um espadachim-guerreiro são, em sua maioria, simplesmente ignorados na forma esportiva de esgrima chamada kendô. No kendô, os alvos são o topo da cabeça, a garganta, os ombros, o centro e os lados do peito.
Existe a crença firme de que os katás são fruto de uma inspiração divina. O Mestre Fundador recebeu-os do céu numa visão e depois registrou-os para que fossem transmitidos perpetuamente aos seus sucessores. Para que, pois, estudar o que é terreno quando se tem nas mãos o que é celeste?
Em segundo lugar, a divindade e a perfeição são coisas correlatas: os movimentos dos katás abarcam quase todas as ações imagináveis que podem ser feitas com uma espada, e é quase certo que as que não constam dos katás simplesmente não teriam valor de combate.
Em terceiro lugar, Otake Sensei acha que o embate de estilo livre pode gerar maus hábitos nos alunos. Os praticantes começam a “segurar” os golpes, ou seja, a parar a espada antes que seus movimentos atinjam a plenitude da força e do poder de penetração. Além disso, no torneio, um fator de competição começa a substituir a cooperação, e a responsabilidade e o perigo de se ter nas mãos uma arma de verdade são substituídos pela atitude mental do esportista que maneja uma arma de brinquedo.
Por fim, Otake Sensei nos deixou claro que o verdadeiro valor dos katás não está somente no fato de eles refinarem a habilidade marcial do praticante – aguçando as suas reações e melhorando o seu equilíbrio, a sua capacidade de julgar o momento correto de atacar, a sua velocidade e a sua precisão -, mas essencialmente no fato de instilarem no aluno o autocontrole e a disciplina. Os Katás, ao mesmo tempo que ensinam as pessoas a matar, ensinam também que não convem usar a violência.

O Iai – Jutsu

A prática do combate com armas de madeira é apenas uma das partes do treinamento. A outra parte, do iai-jutsu, é a clássica preatica de uma pessoa com uma espada de verdade.
No Japão, muitos homens praticam o iai-jutsu e o iai-dô; para a maioria, porém, essas artes são exercícios físicos ou aspectos da prática do Budismo Zen. Quando Mestre Otake desembainha a sua espada, toda a finalidade desse gesto se faz perceber. Ele imagina à sua frente um oponente real; nunca perde de vista a finalidade devastadora de sua espada.
Armadura samurai “Yoroi”
O iai-jutsu consiste, em boa parte, na busca do golpe de espada único e perfeito. Trata-se da luta depurada e reduzida a um único e crucial momento, como no famoso desafio do filme Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, que termina em morte. Levanta-se de fato a questão de o que aconteceria caso tivesse de haver um segundo golpe. Na Katori Shinto Ryu, os alunos aprendem uma sucessão de golpes, o que se aproxima muito de uma situação de conflito real.
Em muitos katás do iai-jutsu, o espadachim parte da posição agachada. Esses katás são concebidos como reações a um ataque noturno. O executante permanece agachado, para não ser visto pelo seu agressor e dá um salto no último instante, desferindo simultaneamente um ou mais golpes. Os katás cobrem sistematicamente ataques vindos da frente, dos lados e pelas costas, bem como múltiplos ataques vindos de múltiplas direções. A essência da arte é a velocidade coruscante e a precisão absoluta, e o objetivo é o de derrubar um agressor com o menor número possível de golpes. Presta-se grande atenção à correta colocação da espada no cinto antes do início do movimento e à sua rápida e eficiente recolocação na bainha depois do embate.
Tashemiguiri – Movimento de corte em espiral.
Na mente da maioria dos japoneses, o iai-jutsu e o iai-dô são associados ao Budismo Zen; não, porém, para os adeptos da Katori Shinto Ryu. Eles aprendem um sistema de encantamentos budistas que podem ser usados no campo de batalha. O guerreiro que estudou o Budismo esotérico executa com suas mãos uma série de gestos mágicos, como explica Mestre Otake:
Dentro do currículo do heiho (‘o método do soldado’), ou seja, nas artes da guerra, encontramos algo chamado kuji no in, ou ‘a inscrição das nove letras ou nove sinais’. Essa prática, sem dúvida alguma, foi uma das contribuições dadas pelo Budismo místico às artes da estratégia. É uma das práticas do Budismo Mikkyo, que trata de práticas místicas, encantamentos e invocações.
Treinamento com bokens, espadas de madeira.

O Kuji no in ”A escola da palavra verdadeira”

O kuji no in é um prática exotérica da escola Mikkyo de budismo Shingon. Há nove sinais, e cada um deles tem um nome: rin; pyo; to; sho; kai; jin; retsu; zai; zen. Eles compõem o kuji no in. Depois de dominar esses nove e unificar o corpo e a mente por meio da prática, você pode usar o que se chama de décima letra. Para tanto, você faz a espada-de-mão, inscrevendo nove linhas na palma da mão. Cada uma das linhas representa uma das nove letras, e, juntas, elas formam uma grelha. Quando pomos mais um caractere no centro da grelha, isso se chama ‘o método do décimo caractere’ ou ‘da décima letra.

Insere-se no centro da grelha uma décima letra, escolhida dentre um conjunto determinado de caracteres chineses. A décima letra é escolhida de acordo com as suas necessidades. Se você está atacando, ou está sendo atacado, ou não quer que o seu navio afunde no mar, ou quer curar uma doença, tem de inserir o caractere apropriado no centro da grelha.
Imagine, por exemplo, que você fosse fazer uma viagem de navio. Nesse caso, desenharia a grelha das nove letras e, no centro, inscreveria o caractere que significa ‘dragão’. Então, mesmo que o seu navio afundasse, você não se afogaria. Cortaria as letras rapidamente e faria uma invocação específica. A invocação o deixaria confiante de que, mesmo que o seu navio fosse a pique, você seria salvo.
Esse método da décima letra é necessário quando você se determina a fazer alguma coisa e precisa ter uma atitude firme e inabalável, ou seja, precisa ter fé na sua capacidade de conseguir. Nesse caso, você usa a inscrição das nove letras ou o caminho da décima letra para instilar essa atitude no seu espírito e na sua mente.
Ao determinar a estratégia marcial, é essencial que você tenha uma confiança inabalável na sua própria capacidade. Deve ter uma convicção capaz de romper qualquer barreira, transpor qualquer obstáculo. Para ilustrar esse ponto, temos a antiga história de um casal de namorados. A jovem foi atacada por um tigre assassino e ficou gravemente ferida. Por mais que o namorado tentasse curá-la, nada havia que ele pudesse fazer, e ela morreu. Fora morta pelo tigre; e, das profundezas do seu próprio sofrimento, o namorado determinou-se a vingar-se do tigre por ter matado a sua amada.
Tomou seu arco e suas flechas e, todos os dias, entrava nas matas em busca do tigre. Por fim, certo dia, viu a distância a forma de um tigre adormecido e percebeu de imediato que aquele era o tigre que matara sua namorada. Estirou o arco, mirou cuidadosamente e desferiu a flechada. A flecha perfurou profundamente o corpo do tigre e o jovem correu adiante para confirmar que ele estava morto. Quando chegou lá, porém, percebeu que sua flecha havia perfurado uma pedra listrada semelhante à forma de um tigre adormecido.
Depois disso, a reputaçâo do jovem no povoado em que vivia cresceu, pois todos começaram a comentar sobre o quanto ele era forte, capaz de perfurar uma pedra com uma flechada. Os outros queriam ver se ele seria capaz de fazê-lo de novo. Mas, por mais que ele tentasse, as flechas batiam na pedra e caíam. Percebeu ele que isso acontecia porque estava tentando sOmente cravar uma flecha numa pedra. Antes, quando pensara que a pedra era o tigre, a determinação de vingar sua amada possibilitara que ele perfurasse até mesmo uma pedra com sua flecha. Essa história deu origem ao ditado japonês: ‘Uma vontade forte pode furar uma pedra:’
O homem de estratégia tem de ter uma tal vontade forte, uma tal convicção inabalável, pois é nessa espécie de crença ou fé que uma força incrivelmenc te poderosa se manifesta. Sem esse tipo de convicção, até mesmo os mais nobres esforços se perdem.
Isso vale, evidentemente, não só para a estratégia marcial, mas para todos os aspectos da vida. A história do Japão nos fornece um outro exemplo. Na época das guerras entre os clãs Taira e Minamoto, no período da história do Japão em que a casta guerreira estava tomando forma, ocorreu, em 1184, a Batalha de Yashima. Nela, os guerreiros de Taira desafiaram os de Minamoto a tentar derrubar com uma flecha um leque que estava preso no alto do mastro de um de seus navios. Os guerreiros de Minamoto, que estavam em terra olhando para os navios, perceberam que seria extremamente difícil para qualquer homem atirar uma flecha a tão grande distância, quanto mais acertar o alvo, fixado no mastro balouçante de um navio em águas encapeladas.
Mesmo assim, um certo guerreiro chamado Nasu no Yoichi apresentouse e disse que tentaria derrubar o leque do alto do mastro. Incontinenti, entrou com seu cavalo nas águas rasas. Encaixando a flecha na corda do arco antes de puxá-lo, percebeu que seria muito difícil mirar o leque, que balouçava como o mar. Invocou então o nome da sua divindade tutelar, que era também a divindade tutelar do clã Minamoto: o grande bodhisattva Hachiman, em quem cria firmemente.
Fez um voto ao grande bodhisattva Hachiman, o deus da guerra, que, mesmo que morresse no dia seguinte, não se arrependeria de sua vida se fosse capaz de atingir o leque com sua flecha. Pediu então a Hachiman que acalmasse as ondas, de modo que o alvo não se mexesse tanto. Milagrosamente, naquele mesmo instante, o mar se acalmou; o guerreiro estirou o arco, desferiu a flechada e atingiu o alvo. Os guerreiros de ambos os exércitos aclamaram sua grande habilidade.
“Provavelmente, esse milagre é um símbolo. O acalmar das ondas simboliza a tranqüilização do seu próprio espírito, que ocorreu quando ele invocou sua divindade. Provavelmente, foi por ter acalmado seu próprio espírito que ele foi capaz de atingir o leque no ponto exato em que as hastes se encontram. É isso que quero dizer quando falo de fé ou convicção. Os guerreiros tinham de haver-se com situações especialmente difíceis.”

Os Usos dos Nove Sinais

Otake Sensei já explicou que o fundador da Katori Shinto Ryu, Choisai Sensei, incorporou o uso de técnicas esotéricas da tradição budista para aumentar a boa fortuna dos guerreiros. Para tanto, o guerreiro precisa executar a série de gestos de mão chamados kuji no in e selar o encantamento com um décimo movimento secreto. Esse sistema pode ser usado de várias maneiras benéficas por um praticante instruído.
Em toda parte, é natural que os seres humanos, quando começam a ter muitos problemas, procurem algo em que se apoiar, algo que aumente a sua capacidade de lidar com a situação. Para os guerreiros do Japão, esse algo foi proporcionado pelas doutrinas da escola budista dos encantamentos e domisticismo. Digo isso muito embora se pense comumente, hoje em dia, que as artes da guerra e da espada são em tudo idênticas às artes do Budismo meditativo, e muita gente diga que a espada e o Zen são a mesma coisa.
Porém, embora a essência do Zen seja a mesma essência de todo o Budismo, o Zen é uma forma que exige um período de treinamento extremamente longo. Esse treinamento consiste em ficar sentado de frente para uma parede branca. As únicas instruções do praticante são a de não pensar em nada, e, mais ainda, de não pensar em não pensar em nada. O domínio dessa prática leva décadas. É necessário um tempo enorme para penetrar no domínio do não-ego.
“A escola Mikkyo, por sua vez, oferece uma prática ou uma forma de atividade concreta por meio da qual a pessoa pode entrar nesse mesmo estado de auto-apagamento. Essa atividade é a prática da formação das ‘Nove Letras’ ou sinais de mão. O uso de uma técnica concreta como essa é muito mais rápido.”
Essas técnicas mágicas também podem ser usadas para curar os doentes. O paciente que procura Mestre Otake senta-se em silêncio enquanto o Mestre escreve encantamento”s sobre uma folha de papel. Ele desenha uma silhueta simples do corpo humano e, no lugar do desenho correspondente à parte do corpo que precisa de tratamento, as nove linhas entrecruzadas que representam o kuji no in. Acrescenta então o décimo sinal. O papel do desenho é dobrado em forma de leque e encaixado num gravetinho que serve de cabo.
Então, Mestre Otake coloca o leque sobre o altar da família e, de pé diante do altar, faz os nove sinais de mão. Pega o leque de papel e o passa sobre o paciente, depositando-o depois sobre o local da doença. No fim, o paciente tem de levar o leque até as margens de um rio, cravar na terra três varinhas de incenso acesas, atirar o leque na água e ir embora sem olhar para trás.
Esses ensinamentos do Fundador da Katori Shinto Ryu são úteis para todos os aspectos da vida:
Os principais guerreiros ocupavam-se do estudo de muitas coisas que envolviam práticas mágicas e as artes das fórmulas mágicas e encantamentos. Essa prática misteriosa inclui a arte da cura de doenças; métodos para entrar na fortificação ou castelo de um inimigo; e métodos de proteger o próprio castelo contra sítios ou ataques. Inclui, na verdade, um número incalculável de artes.
Essas artes são preservadas na Katori Shinto Ryu, onde, por exemplo, temos métodos para a remoção de objetos alojados no olho e meios para a cura de doenças. Essas práticas de cura são chamadas, no Japão, de te-ate. O nome implica o toque das mãos ou a imposição de mãos.
A mão pode ser usada para gerar energia. Nos tempos antigos, provavelmente tinha ainda mais poder do que tem hoje em dia. Tomemos o exemplo de uma criança que está com dor de estômago e se queixa disso para sua mãe. A mãe corre com o filho para o consultório médico, mas encontra-o fechado. Vai para vários lugares à procura de alguém que cuide da criança, mas não acha ninguém. Por compaixão, então, ela procura confortar o filho, tocando-o com suas próprias mãos.
De modo quase milagroso, a criança sente um grande alívio, ou mesmo sente a dor desaparecer por completo. Nesse caso, foi o amor da mãe que passou por suas mãos, confortou a criança e provocou o alívio. Às vezes, essa energia pode ser muito mais eficaz do que a de um estranho que por acaso é médico e diz: ‘Onde está doendo?’ ou ‘O que você está sentindo?’
É por isso que certas pessoas, quando sofrem, por exemplo, de uma inchação ou uma dor em algum lugar, podem aliviar-se ou mesmo curar-se completamente por meio do poder da lei budista. Elas fazem uso do seu próprio poder psicológico, ou seja, do poder de Deus. A eficácia desse poder depende da convicção ou da fé da pessoa.
Nestes últimos tempos, temos ouvido falar muito da psicocinese e dos poderes psicológicos ou ocultos. Para ativar esse tipo de poder, qualquer que seja o nome que se lhe dê, a pessoa tem de ter uma fé ou uma crença implícita na existência do poder e uma convicção da sua eficácia. A pessoa plenamente convicta de que esse método poderá curá-la será curada milagrosamente. Já vi isso acontecer inúmeras vezes. É por isso que penso que essas coisas não devem ser chamadas de ocultas, nem mesmo de milagrosas.
Aprendi por experiência que essas coisas misteriosas acontecem de fato.
Essa fé, essa convicção, pode operar milagres. Não estou me referindo aos casos de coincidência, nos quais uma pessoa pensa em algo e aquilo que ela pensou acontece. A convicção pode realmente produzir e manifestar milagres. É uma questão de fé. Hoje em dia, muitos acreditam em Deus ou no Buda. Não obstante, qualquer que seja a opinião dessas pessoas, esses eventos milagrosos realmente acontecem.”
No que diz respeito aos armamentos, eles são instrumentos de mau agouro. Não devem ser usados pelo homem do Tao. Isso porque as ações das armas terão a sua retribuição; espinheiros e abrolhos crescem nos locais onde exércitos estiveram aquartelados. As grandes guerras seguem-se inevitavelmente anos de escassez. O homem do Tao, quando está em casa, faz da esquerda o lugar de honra; e, quando usa armas, faz da direita o lugar de honra. Só usa as armas quando não pode evitá-lo e não se agrada de suas conquistas. Caso se agradasse delas, é porque teria gosto pelo morticínio dos homens. Aquele que se agrada do morticínio dos homens não pode ter a sua vontade imposta ao mundo.
Tao Te Ching, de Lao Tzu

Matéria extraída do livro ”O caminho do guerreiro de Howard Reid e Michael Groucher” Editora Cultrix

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